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"Demónio" — Leonor Hipolito — COSMOS.CAC - 20 SETEMBRO DE 2022 

"Demónio, do grego “daimon” e cujo significado era muito diferente do que o que mais tarde, propagado pelo cristianismo, lhe foi dado, é um termo que me interessa abordar enquanto denominador de um fenómeno que imagino ter duas faces inseparáveis (ou serão mais?): a de um espírito inspirador, vivificante,
e a de um espírito demolidor, tempestuoso; interessa-me enquanto fenómeno inseparável de nós; do que de divino existe em nós – de forças incompreensíveis mas com o poder de condução: psyche, sopro divino (...)

Sem querer fixar-me numa visão filosófica ou religiosa em concreto, sirvo-me de várias perspetivas para construir a imagem de um demónio vivificante e inspirador, catártico e com afinidade à própria natureza da arte. Porque todas as forças (construtivas ou destrutivas) têm o seu poder criador já que, antes de mais, todas elas são transformadoras.

A união, rebelde a si própria – um ser sem limites; invisível, esvoaçante, fumegante, esbracejando, rugindo à procura das suas vestes: fibra, osso, nervo, membrana, cartilagem, carapaça, pelo, pena, e um dia que se respira a si próprio.

Com noite e voltas no âmago, nauseada com o vapor da sua ebulição e fantasia, agita-se; compõe-se, desconjunta-se, parte deixando apenas uma falange na terra. O suficiente para despertar histórias – outras vidas.

Caminho para uma relação com o(s) nosso(s) demónio(s) que o enquadra numa força capaz de nos transformar consoante os impulsos que nos movi- mentam na vida. Se bom, se mau, são perspetivas. Vejo os nossos medos como a nossa vitalidade rugindo aos nossos ouvidos para nos despertar. A nossa vitalidade como uma chama que nos reconduzirá ao sono. E o nosso corpo como o tear onde se desfiam e fiam padrões. Nele, tecelões e demónios ocupam-se do mesmo lavor.

Acompanhando esta reflexão apresento Demónios, uma obra em três partes (Esfinge, Terra, Trovão), tão simplesmente como a primeira de muitas possibili- dades visuais.

Leonor Hipólito reúne linguagens tão diversas como a joalharia, a poesia, o desenho, a escultura e a instalação, consistindo, essencial-mente, numa reflexão sobre a natureza do ser humano.
Entre 1995 e 1999, formou-se em joalharia contemporânea na Academia Gerrit Rietveld em Amsterdão, Países Baixos, e na Parson’s School of Design em Nova Iorque, Estados Unidos.
Há mais de vinte anos apresenta o seu trabalho em Portugal e no estrangeiro, em exposições, publicações, palestras, tutorias e workshops.
Desde 2009, publica os seus livros em estreita colaboração com o fotógrafo e desenhador gráfico Arne Kaiser. O seu mais recente livro de poemas publicado foi “Pena de Pavão”, em 2021.
Publica com alguma regularidade poemas e reflexões no seu blogue feraleo.blogspot.com e sobre os seus projetos e livros em leonorhipolito.com

Curadoria/produção  : João Ramos 






 

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